“The English Game”: a série que retrata a profissionalização do futebol. | Futebol de Terno, por Fellipe Gonçalves
Se você está com saudade do futebol, uma boa pedida são as séries e filmes que abordam o tema. Nesse post, deixei algumas sugestões, mas citarei uma série que merece um texto exclusivo pela sua grandiosidade. Estou falando de The English Game, uma produção britânica idealizada por Julian Fellowes (criador de Downton Abbey) que estreou no último dia 20 de março, na Netflix.
Baseada em fatos reais, a história se passa no ano de 1883, na Inglaterra, quando Fergus Suter e Jimmy Love saem da Escócia e chegam à cidade de Darwen, em Lancashire. A dupla, que vinha se destacando no Partick, clube de Glasgow, chamou a atenção de James Walsh, dono de uma fábrica de tecidos na cidade inglesa que tinha um time de futebol formado pelos seus operários. Suter e Love chegam para integrar o time sob a desculpa de que irão trabalhar na fábrica quando, na verdade, seriam remunerados para jogar futebol, o que era expressamente proibido na época. Como a economia da cidade era resumida, principalmente, pelas atividades da fábrica, o time e os atletas eram muito bem quistos pelo público local, que se reunia em bares para acompanhar os jogos. Quando os outros operários descobrem que os escoceses foram contratados apenas para entrar em campo, cria-se um clima de revolta.
Paralelamente à vida em Darwen, há outra realidade: a dos lords. O Old Etonians é um clube formado por ex-alunos da Universidade de Eton, em Berkshire, que tinha atletas da alta sociedade inglesa. Embora não fossem remunerados, tinham boas condições de vida que facilitavam na prática do esporte, oferecendo a possibilidade de treinar e se alimentar melhor, por exemplo, diferentemente dos operários, submetidos à grandes cargas de trabalho e sem folgas semanais. O clube, liderado por Arthur Kinnaird, enfrentaria o Darwen na F.A Cup, maior torneio de futebol da Inglaterra.
O primeiro tempo do jogo termina com os Old Etonians vencendo por 5×1, até que Suter mostra a que veio: ao sugerir uma mudança tática no time, o Darwen arranca o empate por 5×5 e força a prorrogação. Como o presidente da Football Association (a CBF dos ingleses) era atleta dos Etonians, a decisão de haver prorrogação no mesmo dia ou marcarem outra data para a partida estava nas mãos dele, que decidiu pelo mais favorável ao seu clube, escancarando a falta de regras específicas e o “jogo de cumpadres” que havia na época.
A série aborda de maneira direta a abertura do futebol inglês para a profissionalização dos operários e faz referências muito interessantes, como a abertura de uma fábrica voltada à produção de uniformes de jogo, patrocínios na beira do campo e as primeiras brigas em arquibancadas.
Liberdade poética a parte, todos os profissionais de marketing esportivo, gestores, dirigentes e managers, acabarão, em algum momento, se identificando com situações presentes no esporte ainda hoje que poderiam ser resolvidas naquela época. Para todos os fãs de futebol, é uma boa pedida para curtir enquanto os campeonatos estão parados!