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O quanto que o programa de sócios realmente impacta na receita? | Por André Romero

A receita de um clube de futebol é formada por uma grande variedade de fatores. O dinheiro arrecadado pode vir através dos direitos de transmissão (principal fonte para vários clubes da Série A do Brasileirão), direitos de atletas, patrocínios, bilheteria, premiação etc. A soma das arrecadações menos o total dos custos operacionais é que vai determinar se a equipe possui um saldo positivo (superavit) ou negativo (déficit) no ano.

A partir do início dos anos 2000, uma nova forma de arrecadação começou a ser implantada no cenário nacional. Hoje em dia, os programas de sócio torcedor representam uma parcela significativa da receita anual de vários clubes, principalmente aqueles que gerem esse setor com excelência. O Internacional, primeiro clube a alcançar a marca de 100 mil sócios no Brasil, foi um dos precursores dessa estratégia na América Latina, e os resultados dessa iniciativa são visíveis até hoje, tendo em vista que o clube tem uma das maiores receitas do futebol brasileiro nesse segmento.

Porém, o Internacional não é o único clube bem sucedido quando se trata de sócio torcedor. Muitos times também aderiram à estratégia, e a seguir iremos comparar, por região, o quanto que seus cofres realmente são afetados pelos programas. Vale ressaltar que, como muito clubes ainda não disponibilizaram as demonstrações financeiras de 2019, os dados comparados são até o ano de 2018.

Rio de Janeiro

O Flamengo é a grande referência no estado do Rio de Janeiro. A partir de 2017, a receita de seu programa de sócios sofreu um grande aumento, indo de 26 milhões arrecadados em 2016 para 43 milhões. A diferença para os outros clubes da região é discrepante. Em 2018, somente a receita nesse segmento foi de 48 milhões, enquanto o Vasco, com 12 milhões de reais arrecadados, foi o segundo clube do estado que mais arrecadou. Porém, vale ressaltar que, em 2020, a receita do clube alvinegro deve aumentar consideravelmente, tendo em vista o sucesso de sua promoção de Black Friday ano passado, que fez com que o clube se tornasse o primeiro colocado no número de sócios adimplentes no Brasil. O Botafogo e o Fluminense deixam a desejar nesse tópico, tendo em vista que o programa de sócios arrecadou em 2018 respectivamente apenas 5 milhões e meio, e 5 milhões de reais.


São Paulo

Na região paulista, o Palmeiras lidera na arrecadação. Em 2018, somente com o programa de sócios denominado “Avanti Palmeiras”, foram arrecadados aproximadamente 48 milhões de reais. A boa fase do clube teve uma grande influência na adesão dos torcedores. Além da conquista do Brasileirão no ano, o sucesso do programa foi mais um motivo de comemoração pelos palmeirenses. Em segundo colocado, vem o Santos, que no mesmo ano do título brasileiro de seu rival, conseguiu arrecadar 40 milhões e meio de reais. O Corinthians se mostrou menos eficaz no programa, e arrecadou somente 18 milhões. Apesar de o São Paulo ter sido um dos primeiros clubes a botar em prática a estratégia do sócio torcedor, o seu programa nunca demostrou um grande avanço. Estagnado desde sua criação, o clube conseguiu arrecadar apenas 8 milhões e meio.


Rio Grande do Sul

Aqui os números são impressionantes. O quadro social dos dois principais clubes da região representam as maiores receitas do país nesse segmento. Entre 2012 e 2018, a liderança entre quem arrecada mais com o programa de sócios variou 4 vezes entre as equipes. Em 2018, o quadro social do Grêmio apresentou uma impressionante receita de 86 milhões e meio de reais, superando o seu principal rival, o Internacional, que arrecadou aproximadamente 64 milhões.


Paraná

Os 2 principais clubes do Paraná conseguiram bons resultados no decorrer dos últimos anos, porém em 2018 a receita de ambos os clubes caiu consideravelmente. O Coritiba atingiu seu auge em 2013, quando, somente com o programa de sócio torcedor, conseguiu arrecadar o total de 26 milhões de reais. Porém, a partir desse momento, a receita começou a decair, até chegar ao valor arrecadado mais baixo da década do clube, acumulando em 2018 apenas 12 milhões. Vale ressaltar que a má fase do clube e sua queda para a série B no ano de 2017 contribuíram consideravelmente para a queda da arrecadação do programa. O auge do Athletico-PR também foi de 26 milhões arrecadados, porém ocorreu no ano de 2017. Em 2018 sua receita decaiu, somando 21 milhões para os cofres do clube.


Minas Gerais

No estado mineiro, a equipe do Cruzeiro liderava a arrecadação até 2018. No ano, o programa de sócios gerou um total de 23 milhões de reais para o clube, superando seu rival, o Atlético Mineiro, que conseguiu apenas 13 milhões e meio com o programa. O sucesso do Cruzeiro, campeão da Copa do Brasil no ano, estimulou a adesão de sua torcida, porém a atual má fase do clube, tendo em vista a grande crise que o clube passou em 2019, gerou péssimos resultados para o seu programa de sócio torcedor. Em fevereiro desse ano, o então vice-presidente executivo do time, Marco Lage, tinha afirmado que a equipe possuía cerca de 48 mil sócios adimplentes, porém, em novembro do mesmo ano o clube apresentava somente um pouco mais de 6 mil sócios torcedores.


Nordeste

Até o ano de 2018, a região Nordeste apresentava 5 clubes que ultrapassaram a marca de 1 milhão de reais adquiridos com o programa de sócios. O Sport era o clube que mais lucrava com os programas, com aproximadamente 14 milhões de reais arrecadados. Em segundo colocado, vem o Vitória com 11 milhões e 700 mil. Em seguida vem o Bahia, Ceará e Fortaleza com respectivamente 9 milhões, 8 milhões e 1 milhão e 400. Vale ressaltar que, apesar de o Fortaleza ter apresentado uma baixa arrecadação em comparação com seus rivais, a atual fase do clube é um grande estímulo para a adesão de sua torcida, tendo em vista que neste ano foi a primeira equipe cearense a jogar uma partida oficial fora do país.

Um comentário

  • Alex Souza

    A megalomania dos clubes e da mídia esportiva distorce a discussão e a real avaliação desse potencial de receita (torcedor). Diretores de clubes e jornalistas adoram a superficialidade que superdimensiona o tamanho das torcidas dos clubes; essas pesquisas sobre quantidades de torcedores só serve para confundir e fomentar debates inúteis . Quantos clubes brasileiros conseguiram fidelizar como sócios 20% dos “milhões que se declaram torcedores”? Nenhum. Por que as análises sobre torcida batem sempre nesses números globais e despreza os dados sobre os que, de forma efetiva, ajudam a pagar as contas? Talvez a discussão deva começar por aí. A realidade é que ainda que haja “milhões” de torcedores, na prática, somente cerca de 5 a 10% costuma participar contribuindo financeiramente. Pesquisas de tamanho de torcida e vanglória sobre estes números não passam de ilusão e idiotice.

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