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Você sabe perder? | Por Felipe Blanco

Todos estamos sujeitos a momentos ruins que podem nunca mais serem esquecidos. Você com certeza se lembra de algum. Quais fatos lideram seu ranking negativo? Para atletas e torcedores apaixonados, uma derrota marcante de sua equipe certamente estará no topo.

Uma pesquisa realizada pela universidade de Sussex, em Brighton na Inglaterra – concluída em 2018 – e posteriormente publicada no The Washington Post (EUA), revelou que o efeito positivo da vitória não dura tanto quanto o efeito negativo da derrota. Eles descobriram que o sofrimento da derrota é superior à alegria de uma vitória. Com base em dados científicos e pesquisa de campo, pode-se afirmar que a derrota do seu time do coração pode deixar feridas incuráveis. Estes momentos irão ocorrer com mais frequência do que qualquer um gostaria. Para que o revés seja melhor assimilado, o clube precisa estar sempre preparado para o melhor e para o pior.

Quase todo torcedor experimentará mais vezes a angústia do que a glória, principalmente no Brasil, onde a maioria dos times vive em verdadeiras montanhas russas quando o assunto é desempenho e títulos. Em campeonatos com 20 (vinte), 30 (trinta) ou 50 (cinquenta) equipes participantes, apenas uma sai vencedora: todas as outras perdem, algumas são rebaixadas, perdem dinheiro, torcida e contratos. É natural. Para que uma vença, as outras devem perder. Muitos clubes lidam com esta ocasião ignorando o sentimento do seu torcedor, ou pior, agindo como se fossem um deles. É bastante comum que o profissional de marketing/comunicação, ou simplesmente quem dá o aval para liberar a publicação sobre a derrota, seja, de fato, um torcedor, mas nesta situação é necessário priorizar a razão acima da emoção.

“Um time vive de títulos”. “O atacante vive de gols”. “Marketing é bola na rede”. Se você reproduz essas frases por aí, saliento que é importante acrescentar algumas ressalvas. O título é o momento máximo de uma equipe. É a conquista, o topo, a glória. Assim como são o gol para o camisa 9, e a vitória para o marketing.  Entretanto, o futebol não se fomenta apenas com triunfos. Como dito anteriormente, o maior período será tomado pela tormenta, pois até o 2º (segundo) lugar é um derrotado, na visão da maior parte dos torcedores. Mesmo que ele tenha deixado 30 (trinta) equipes para trás ao longo da competição.

O que um clube pode fazer para mudar esse pensamento? A comissão técnica e os gestores das equipes sabem que o 2º (segundo), o 3º (terceiro), o 4º (quarto) e diversas outras colocações devem ser celebradas, e isso precisa ser valorizado quando o clube for se comunicar com seu torcedor. Porém, é preciso respeitar sua dor no momento da adversidade. Não é recomendável rebater com o clichê de que são os melhores do estado, país, quiçá da galáxia, por exemplo. É preciso aceitar o que ocorreu com seriedade, ser realista quanto ao momento e nutrir o amor e a relação que o clube tem com a sua torcida. Recorra à racionalidade para entender o sofrimento dos seus fãs e colocar-se no lugar deles, o que não significa jogar a toalha. Esta pode ser a atitude de alguns torcedores, jamais a dos clubes.

Aqui estão 2 (dois) bons exemplos de como se portar diante de seu torcedor após uma derrota significativa. Seguem dois momentos bem distintos: o Flamengo em uma temporada histórica, campeão carioca, brasileiro e da Libertadores, comunicando a derrota na final do Mundial diante do Liverpool-ING. E do outro lado, em circunstância díspar, o Corinthians, que se classificara para a pré-Libertadores, após alcançar a 8º (oitava) colocação em 2019, sendo eliminado precocemente da tão almejada Libertadores.

Pós jogo – Flamengo x Liverpool | 21.12.2019

 

 

Corinthians – Publicação ao final do jogo, após eliminação diante do Guaraní-PAR, na pré-Libertadores

Vídeo publicado no Facebook do clube, na noite seguinte. Clique na imagem e confira.

Os dois clubes de maior torcida no país reforçaram seus méritos ao serem derrotados. O caso do Flamengo era muito mais favorável, obviamente, mas delicado de toda forma. O alvinegro teve missão muito mais árdua para acalmar sua imensa torcida após uma eliminação ressentida e inesperada. De todo modo, a forma de transmitir o sentimento foi um ótimo exemplo. Reforçou o que possui de mais importante: o amor e fidelidade de sua torcida. Essa é a mensagem que deve ser passada, o apoio, o amor e a união, independente da adversidade. O torcedor precisa apreciar o clube acima do resultado. É como em uma relação familiar, na qual não se abandona um filho ou uma mãe por eles não estarem plenamente saudáveis ou no seu melhor momento, você os abraça e os coloca “para cima” outra vez.

Os clubes não podem deixar de publicar resultados indesejados, eliminações e goleadas, imaginando que todos esquecerão. O silêncio e a fuga não são os melhores remédios. A derrota dói, mas precisa ser explorada, ou as mágoas crescerão e a torcida será condicionada apenas a resultados. Tarefa fácil? Não, absolutamente penosa, porém necessária. Torcida ideal seria a que segue a frase escrita pelo uruguaio Eduardo Galeano, em seu clássico livro “Futebol ao sol e a sombra”: “Ganamos, perdimos, igual nos divertimos”. (Ganhamos, perdemos, igualmente nos divertimos).

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