Como aproximar a torcida do clube | Por André Romero
A relação entre um torcedor de futebol e o seu clube é uma das mais complexas. Movida pela paixão, ela pode gerar alegria, sofrimento, alívio, raiva e diversos outros sentimentos. A fase da equipe tem uma grande parcela de responsabilidade nesse quesito, porém, os clubes não podem depender somente do desempenho entre as quatro linhas para manter uma relação próxima aos seus torcedores, e cada vez mais estratégias estão sendo postas em prática para estreitar esses laços.
A torcida é o principal patrimônio de um clube, e a seguir podemos ver algumas ações que estão sendo implementadas pelos clubes para valorizá-la cada vez mais.
Embaixadas
Os grandes clubes do futebol brasileiro, principalmente os do eixo Rio-São Paulo, possuem uma imensa torcida fora dos seus domínios territoriais. Pensando nisso, suas diretorias resolveram investir nas chamadas embaixadas, como forma de aproximar a parcela da torcida de outras cidades que não costuma frequentar os estádios.
As embaixadas são movimentos espontâneos de torcedores por diversas localidades do Brasil e do exterior, que se reúnem para assistir aos jogos do seu time e comemorar suas vitórias e conquistas – além de trazer novos sócios-torcedores, contribui para divulgar os valores e campanhas do clube, além de realizar ações sociais.
O principal objetivo das embaixadas, que não têm fins lucrativos, é aproximar os clubes de seus torcedores que estão distantes, expandindo sua cultura e aumentando seu quadro social. Elas representam os sócios em seus locais de origem e funcionam como elo entre a instituição e seus associados, que as organizam e as dirigem de modo voluntário.
Ações promocionais
Através de ações promocionais, o clube pode usar a criatividade para achar maneiras diversificadas de se aproximar da sua torcida. O leque de opções nesse quesito é quase que ilimitado, porém cabe ao departamento de marketing escolher quais delas irão atingir os objetivos da diretoria com maior eficácia.
Podendo ser tanto no meio digital, quanto no offline, diversas equipes têm um vasto repertório quando se trata deste assunto. A seleção brasileira olímpica, por exemplo, disponibilizou no estádio dos Aflitos, em Pernambuco, 1500 entradas para o programa “ingressos solidários” no último amistoso contra a Venezuela . Os bilhetes puderam ser adquiridos em troca de dois quilos de alimentos no dia do jogo. Além de facilitar a ida da torcida ao estádio, a ação também ganhou pontos por apoiar uma causa social, tendo em vista que todos os alimentos foram doados.
O Liverpool também é muito forte nessa área. Buscando inovar, ele se tornou a primeira equipe esportiva do mundo a criar um pacote de assinatura dentro do YouTube. Por um valor estabelecido de £0,99 (R$5,73), os assinantes terão acesso a conteúdos exclusivos e outras vantagens prometidas pelo clube inglês, que lidera a rede social de vídeos na Inglaterra. Além disso, ações promocionais, como o craque Mohamed Salah surpreendendo pequenos torcedores dos Reds, como mostrado abaixo, geram bastante simpatia e conexão com o clube.
Vale ressaltar que, para os times brasileiros, ações envolvendo os torcedores mais jovens são fundamentais, tendo em vista que o fascínio pelo futebol europeu vem crescendo cada vez mais entre esse público. A tecnologia aproximou dos brasileiros estrelas como Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, que parecem mais ao alcance, apesar de estarem em outro continente.
Sócio-torcedor
O programa de sócio torcedor é a principal ferramenta que os clubes brasileiros usam para se aproximar de sua torcida. Através de um valor pago mensalmente, o associado usufrui de vários benefícios, que variam de acordo com o plano escolhido, como descontos em arquibancadas, direito a convidados, descontos na rede de parceiros, experiências exclusivas etc.
Algumas equipes também possuem planos voltados para a parcela de sua torcida que mora em locais diferentes do estado em que o clube atua. O Vasco por exemplo, com seu plano “de Norte a Sul”, oferece experiências exclusivas para quem reside fora do Rio de Janeiro. Um exemplo disto pode ser observado recentemente, quando o clube foi confrontar o time Altos do Piauí, pela primeira fase da Copa do Brasil. Experiências voltadas somente para os sócio residentes desse estado foram lançadas antes que a partida ocorresse, como a troca de pontos por camisas autografadas e pelo direito de entrar em campo com a equipe.
Se o programa for gerido da maneira correta, ele consegue ter um resultado muito positivo no saldo do clube. No Internacional ,por exemplo, somente o quadro social foi responsável por 22% da receita total do clube em 2018, enquanto no seu maior rival, o Grêmio, os associados foram responsáveis por 20% da receita no mesmo ano.
Porém, cada clube possui um respectivo contexto em que ele está inserido. Enquanto o Fluminense foca em levar os seus sócios ao estádio, tendo em vista que seu número atual de associados ainda não seria capaz de encher o Maracanã, o seu rival Flamengo, que possui 130 mil sócios, está focado em experiências que vão além de levar sua torcida ao estádio, que não possui capacidade para esta quantidade de pessoas. Uma distorção no foco do programa de sócios pode gerar um efeito contrário ao desejado e acabar afastando a torcida invés de aproximá-la.
Outras maneiras como escolinhas licenciadas, lançamentos de produtos oficiais e organização de eventos também são eficazes para estreitar os laços com a torcida. Porém, é necessário muita pesquisa e planejamento para saber o que a torcida quer, e como o clube pode gastar seus recursos da maneira mais eficaz possível para que seu principal patrimônio esteja cada vez mais próximo.