O real espírito natalino: Vai Bahêa! | Por Felipe Blanco
O Natal é uma das celebrações mais difundidas ao redor do mundo, e carrega consigo valores importantes como a empatia, a solidariedade, a união, a paz, o amor e a fraternidade. De teor religioso ou não, é inegável que essa data motiva inúmeras confraternizações e ações sociais no meio futebolístico.
Para redigir uma coluna sobre esse dia tão representativo e histórico, na esfera do futebol, precisamente no marketing e comunicação, vasculhei diversas páginas oficiais de clubes pelo mundo para espiar como trataram o tema. Ao invés de fazer um apanhado geral sobre a criatividade dos clubes e atos de solidariedade, decidi escolher um clube, aquele que, sob o meu olhar, representou o espírito natalino com grande autenticidade em diversos atos.
Apenas para não deixar de citar os fatos que ganharam maior destaque na grande mídia, aponto o nobre ato do Cristiano Ronaldo (Juventus-ITA) visitando crianças no hospital, o elenco do PSG fantasiado e comandado pelo goleiro e papai Noel, Buffon, surpreendendo crianças, a cômica paródia de Kevin De Bruyne (Manchester City-ING) do filme Esqueceram de mim e as abundantes mensagens de atletas, de variados clubes, aos seus torcedores e simpatizantes:
Os jogadores do PSG se fantasiaram e surpreenderam alguns jovens torcedores:
Kevin De Bruyne interpretou cenas do filme Esqueceram de mim:
Kevin McCallister or @DeBruyneKev? ?
We have no idea… ?♂️ #mancity pic.twitter.com/DCgDqLZO8M
— Manchester City (@ManCity) December 21, 2018
O Real Madrid desejou um feliz natal através de seus atletas:
Os jogadores do Bayern de Munique surpreenderam jovens atletas do clube durante um coral:
O Corinthians publicou artes e vídeos de alguns jogadores desejando feliz natal
O Cruzeiro fez esse vídeo engraçado com seus mascotes
As redes sociais do Palmeiras estão repletas de postagens sobre o título brasileiro, sua grandeza e também publicaram uma ação com um torcedor com necessidades especiais.
O Flamengo soltou essa imagem:
O São Paulo criou um vídeo com seus atletas:
Esporte Clube Bahia – é a ele que me dedicarei neste texto. Não foi apenas no dia 25 de dezembro que seus colaboradores apresentaram o espírito genuíno do Natal. Antes de desenvolver os porquês, preciso ressaltar a postura do clube, pois, enxergo que o Natal foi “raptado” pelo capital e atualmente pode até ser confundido com uma mera troca de presentes e pequenos gestos que servem para cumprir protocolos e gerar likes.
Enquanto muitos espalhavam mensagens oriundas de crtl+c e crtl+v, ou frases decoradas e alteradas apenas em sua ordem e vírgulas, o Bahêa fez diferente e deu exemplo: “Neste Natal, experimente trocar presente por presença. Presenteie com presença”. Essas são as duas primeiras frases do vídeo natalino da equipe, que você confere abaixo:
Um vídeo curto e simples, mas repleto de amor, ternura e significado. Não só como demanda o mercado, mas como reivindicam os corações humanos. Nossos próximos precisam de carinho verdadeiro, e os clubes possuem imenso potencial para promover ações nesta direção. Os times movem multidões apaixonadas, fiéis e defensoras irracionais de suas agremiações. “O meu time é a coisa mais importante da minha vida”, bradam os mais aficionados. É preciso retribuir, não só com gols, pois nem sempre eles virão, mas com solidariedade, amor, respeito e inclusão.
O torcedor tem participação primordial em inúmeros aspectos que possibilitam o sucesso de uma equipe. Colocá-lo como destaque em seus meios de comunicação, fortalece, ainda mais, o elo entre ambos. É como ser citado publicamente por alguém que você admira e estima verdadeiramente. Foi esse o gesto do Bahia em mais uma ativação do Natal. Os jogadores foram substituídos por torcedores, que tiveram voz para deixar mensagens, cada um à sua maneira.
Perceba a irreverência, honestidade e simplicidade ao substituir os tradicionais elementos do natal norte americano (pinheiro e neve), nesta publicação:
Há pouco tempo, outra ação foi digna de destaque. O tricolor baiano lançou uma camisa a preço popular – comparado ao preço comum praticado para camisas de futebol – mostrando que há valores importantes e que são anteriores ao lucro. É preciso olhar para as camadas menos abastadas de seus seguidores assim como se olha para os consumidores com maior poder de compra. Não é apenas um ato solidário, é uma estratégia de venda.
O Bahia está situado na região nordeste do Brasil, área menos favorecida economicamente do que os locais onde encontram-se os gigantes do futebol nacional, como Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Cruzeiro, Grêmio e Internacional. Torcedores do Bahia e outros clubes do Brasil dirão que seus times também são gigantes. Sim, podem ser, muitos aspectos podem ser considerados para essa classificação, portanto, não discordo de vocês. O que quero deixar claro é como o Bahia tem se mostrado atencioso, solidário, plural e inclusivo. O exemplo que estão passando é o que me motivou a dedicar esta coluna ao trabalho bem desenvolvido pelo tricolor de aço.
Outro fato que merece destaque é o garoto propaganda do programa de sócios, o popular Jotinha. A figura cômica desafia os padrões estéticos da cultura padrão e é um sucesso incontestável nas redes sociais. Outro bom exemplo de clube agregador e que sabe comunicar-se de forma simples e direta.
É importante debater sobre o fato de o esporte mais popular do Brasil e quiçá do mundo inteiro, estar “virando as costas” para a maior camada de seus torcedores, apenas por não terem capacidade de pagar a quantia que determinaram valer o produto oferecido. O esporte da terra da rainha pouco a pouco se popularizou e se expandiu por todo o país como o nº 1 na preferência dos brasileiros de variadas classes econômicas, principalmente as mais carentes.
No entanto, o esporte da massa tem sofrido com a perda de adeptos, sejam praticantes ou simpatizantes. Cabe aos clubes não deixar que o “negócio futebol” seja financeiramente interessante, mas excludente, ao mesmo tempo.
É possível conciliar os interesses de clube e fãs. Que utopia achar que os clubes devem reduzir os valores praticados, ou criar setores mais baratos para “fazer caridade”, uma vez que podem cobrar altos preços e ainda encher suas arenas.
Vocês podem achar que sou inocente e sonhador ao esperar que os clubes sejam mais Bahia e menos Palmeiras, mas não é uma luta onde apenas um lado sai vencedor. O modelo de negócio do Palmeiras é inteligente, bem planejado e com excelentes resultados. Não há contestação.
Contudo, retomando o início do texto, não debato apenas a efetividade e resultados, mas a empatia, solidariedade, união, paz, amor e fraternidade. Acredito que estes valores devem ser praticados por todos diariamente. Isso não significa abrir mão do lucro e saúde financeira do clube.