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Entrevista com Eduardo Guimarães, Social Media da Chapecoense

Tive o prazer e a oportunidade de conversar com um dos responsáveis pelas criações das mídias sociais de um dos clubes mais amados do Brasil. Um clube que em pouco tempo conseguiu ter mais destaque e conquistas que muitos clubes centenários. Tudo por conta de uma forte e competente estratégia e planejamento de gestão esportivo. Entrevistei o Eduardo Guimarães e abaixo o conteúdo completo, exclusivo, para você:

Nome: Eduardo Guimarães
Idade: 22 anos
Clube: Chapecoense-SC
Função: Diretor de Arte e Social Media (Marketing)
Há quanto tempo na função: 4 anos
Onde trabalhou antes: Projetos pessoais

Opa, Eduardo! Tudo bom? É um prazer conversar com você e entender um pouco mais de como funcionam as mídias sociais e o design da Chape.

Me lembro que, pouco antes da tragédia na Colômbia, as mídias sociais da Chape eram as pioneiras na questão de posts mais bem humorados, descontraídos. Como você enxerga esta linguagem menos formal que muitos clubes de futebol utilizam hoje?

R: Então… eu entrei na Chape em 2014, no mesmo ano da primeira participação do clube na Série A do Brasileirão. Entrei pouco antes da estreia (fui a primeira contratação do time pra Série A, kkkk) e, nisso, havia uma grande desconfiança por parte da imprensa, pois, 90% da mídia em geral colocava a Chape como rebaixada no fim do campeonato.

Como a Chape saiu da Série D pra Série A em cinco anos, nem nós sabíamos como seria o nosso campeonato. Foi aí que, meio por conta, decidi tornar o Verdão conhecido nas redes, porque realmente ninguém sabia se ficaríamos na A ou não.

Nós tínhamos que aproveitar a oportunidade e fazer o clube ficar conhecido. Como eu vim de uma página de humor esportivo, brincar e ter sacadas engraçadas fazia parte da minha rotina. Resolvi tentar na Chape e acabou dando muito certo!

A maioria dos clubes, na época, tinham as redes bem ‘formais’, aí nós arriscamos com brincadeiras que não denegrissem a imagem dos outros clubes e acabou dando certo. Uma das primeiras brincadeiras foi no “5 a 0” contra o Inter: A imprensa falava que o colorado iria “passar o trator por nós”. Minutos depois que começou a partida, quando nós fizemos o terceiro gol, eu publiquei um “Ué” no Twitter e esse tweet “pegou tanta força” que fez os números da Chape crescerem muito para a época. O tweet alcançou mais de 28 mil retweets, sendo que nós deveríamos ter algo em torno de 5.000 seguidores. Foi aí que as brincadeiras ficaram mais constantes.

Você tem referências (páginas de clubes/ou profissionais ) no marketing digital esportivo? Quais são?

R: Tenho sim! Nós temos no WhatsApp dois grupos com o marketing de todos os clubes da Série A e B do Brasileirão, com mais de 120 profissionais. O primeiro é o “Marketing Brasileiro” – nesse, basicamente todos os clubes colocam suas principais ações, então estamos por dentro de quase tudo o que acontece no “Brasilzão”. E o segundo é um grupo só dos “estagiários”, o de Mídias Sociais (o famoso Power Redes, um abraço galera!) que é colocado também as principais ações, mas por ali a gente alinha muitas ações em conjunto com todos os clubes. É um grupo mais descontraído também.

Então, estamos sempre com bastante referências. Mas alguns clubes que eu particularmente gosto de acompanhar as mídias são: Cruzeiro, Paraná Clube, Grêmio, Flamengo e Corinthians.

Qual o maior desafio/atrito você já viveu desde que assumiu as mídias sociais da Chapecoense?

R: Bom, nesse tenho dois desafios. O primeiro foi COMEÇAR. Imagine o seguinte, vou dar um exemplo só para o pessoal entender: Digamos que em um mercado que tem Coca-Cola e Pepsi como dominantes, aparece do nada um refrigerante novo chamado “Refri de Chapecó”.

Quem é esse tal de “Refri de Chapecó?” Ninguém do Brasil sabia como chegou ali e nem se era bom. Como esse “refri novo” iria bater de frente com grandes do Brasil e do Mundo? Esse é basicamente o cenário que a Chape enfrentou no primeiro ano de Série A e aos poucos, com muito trabalho e estudo, fomos ganhando nosso espaço tanto dentro de campo como fora dele.

Então, começar já foi bem difícil. Até chegarmos no fim de 2016: a Chape já era um time mediano, batendo de frente com muitos clubes do Brasil e se destacando muito nas redes sociais. Já éramos o clube de Santa Catarina com maior número de seguidores nas redes.

Imagem: Diário Dos Campos

Até que chegou o momento de RECOMEÇAR. Não tem um jeito fácil e delicado de falar sobre esse assunto, mas, perder 90% de todas as engrenagens do clube foi algo devastador.

No acidente perdemos três pessoas diretas do setor. O Giba e o Cleberson (ambos assessores de imprensa) e também o Vice-presidente de Marketing, Jandir. Nós já éramos um número bem reduzido no marketing, logo, restou Ju, Cissa e eu.

Na época a Ale e o Abner eram estagiários e, após o acidente, acabaram sendo efetivados para ajudar no marketing. Estávamos no auge do clube. Estávamos na FINAL da Sul-Americana. Pode parecer pouco para alguns, mas sair da Série D pra uma final de campeonato internacional era algo surreal para nós. Em um dia estávamos preparando a festa maravilhosa de um possível título dentro do campo, no outro, nós do marketing, estávamos preparando o velório coletivo de todos os nossos colegas. Nunca se prepara pra isso.

E quanto aos layouts/artes, geralmente você recebe uma pauta com bastante antecedência, planejada, os os conteúdos ver surgindo, quase todos, durante a rotina mesmo?

R: Não vou negar. A gente tenta planejar 70% das ações, como datas importantes, eventos grandes e etc. Mas como o futebol é um mundo que gira em torno de resultados, o marketing trabalha pAra reduzir os impactos causados dentro do gramado. Muitas coisas são planejadas momentos antes da partida. É simplesmente uma loucura. Mas é uma loucura que a gente não vive sem. Hahaha!

Como é a estrutura de comunicação da Chape? Tem uma “house” (agência interna) ou ela terceiriza a maior parte dos serviços de comunicação?

Hoje, no Marketing, somos oito pessoas. Eu (direção de arte e mídias sociais), Cissa (eventos e marketing em geral), Juliana (gerente de marketing), Alessandra (assessora), Abner (produção ChapeTV), Mattei (vendas), João (diretor de marketing) e Danielli (vice-presidente de marketing e patrimônio).

Antigamente, tínhamos um número bem reduzido, fazíamos 100% das coisas por aqui. Hoje a Chape é um time conhecido nacionalmente, o número cresceu em função disso. Mas ainda 90% das coisas é feita por aqui,  poucas coisas são terceirizadas. A gente é a nossa própria agência. Hahaha.

Quais os maiores cases de sucesso você pode destacar para os seguidores do Brand Bola? Um na área das mídias sociais e um do design.

Posso citar dois de cada.

Redes sociais:

  • O maior case das redes sociais é a nossa campanha da Sul-Americana 2016. Geralmente as brincadeiras saíam por conta, mas na Sul-Americana foi diferente! Todo o marketing trabalhava em cima da “brincadeira” pós-vitória. Brincamos com a Shakira, com o “Rei de Copas” e até com o Papa! Todos com bom humor. A gente tinha uma “ousadia” interessante! Todo mundo ficava esperando “E aí? Qual será que vai ser a zoera da Chape se a gente ganhar hoje?”. Era sensacional!

  • Conseguimos eternizar o “Vamos, vamos Chape”. No dia do acidente, o mundo todo estava falando sobre nós e nem nós do clube tínhamos consciência do que tinha acontecido logo pela manhã. Alguns dias antes, o nosso querido Giba tinha postado esse vídeo do “Vamos, vamos, Chape”. Ele tinha rendido umas 2.000 curtidas só. O mundo pedia notícias e nós não tínhamos o que postar. Foi aí que a gente resolveu baixar o vídeo do nosso Facebook mesmo e postar com uma legenda “Que essa seja a última imagem dos nosso guerreiros”. Esse post no nosso Facebook passou das 50 milhões de pessoas alcançadas. Eternizamos.

Design:

  • Eu sempre fiz as artes do vestiário da Chape. Eu estava de férias quando fiz o vestiário de 2016. Me chamaram com uma urgência e eu tive um dia pra fazer a arte das casinhas dos atletas porque eles iriam começar a temporada e tinha que estar tudo novo! Eu fiz e, infelizmente, ficou conhecido no mundo todo. Até a transição do vestiário de 2017 foi difícil de fazer. Precisávamos mudar totalmente o ar de tristeza que havia ficado.
  • A segunda maior foi montar o “Espaço #PraSempreChape”. Tívemos que juntar as melhores imagens e não esquecer nenhum de todos que haviam vínculos com o clube. Parece um trabalho simples, mas todas as mais de 50 fotos passaram por dias e mais dias de seleção. Mais de meses pra fazer tudo sair perfeitinho.

Existem muitos outros materiais que eu poderia citar, mas, acredito que esses são os mais marcantes para mim.

Qual dica você dá para aqueles que querem ou já trabalham com marketing esportivo?

A dica que eu dou é: Faça o que você gosta e o resto virá ao natural. Como assim? Em 2012 eu resolvi criar uma página de humor esportivo no Facebook para postar coisas que eu gostava. A página fez sucesso, em 2014 a Chape iria jogar a Série A pela primeira vez e, por ser o time da minha cidade, resolvi criar uma página de humor pra Chape e vender algumas camisas personalizadas, pois viver de likes é difícil! Hahaha!

Fiz as camisetas e coloquei para vender. Dois dias depois, a Cissa me chamou para uma reunião. Eu tava ferrado demais, meu irmãozinho. Eu estava vendendo camisas sem conhecimento da Chape. Cheguei na reunião, papo vai, papo vem, eles descobriram que a minha outra página de humor era maior que a oficial da Chape. Eles estavam precisando de alguém pra fazer o que eu fazia e me chamaram pra fazer um estágio no clube. Eu consegui sair de um possível processo para um contrato! E estou aqui na Chape desde então. Nada foi muito planejado e olha onde estou hoje. Por isso: Faça o que você gosta e o resto virá ao natural.

Agradeço a oportunidade de aparecer por aqui! Quero mandar um abraço para minha família e meus colegas da “firma” que me aturam até hoje! Tamo junto!

Muito obrigado pela disposição, Eduardo! Abraço!

Devidamente enquadrado! ?⚽ Orgulho de fazer parte dessa incrível @chapecoensereal! #VamosChape

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