O velho futebol está em estado de coma
Os apreciadores do velho futebol têm tido cada vez menos motivos para celebrar. Isto, pelo que se pode compreender após o anúncio feito pela Conmebol, no último dia 23 de fevereiro, de que a Copa Libertadores da América a partir de 2019 terá final única, assim como acontece com a Champions League na Europa.
Segundo os diretores da entidade, a decisão foi tomada baseada em diversos estudos realizados – de âmbito socioeconômico, cultural e de estrutura das principais cidades da América do Sul.
O anúncio da entidade máxima futebolística do continente sul-americano desenterra uma antiga discussão: a viabilidade de se realizar o evento em jogo único, tendo nós, um continente com características extremamente diferentes do europeu – principalmente no que tange à extensão e renda per capita.
Imagino que nós, latino-americanos devemos ter uma espécie de “complexo de vira-lata”, bem ao estilo da analogia de Nelson Rodrigues. Pois se importa muita coisa da Europa, com uma veemente concepção de que as metodologias aplicadas pelo velho mundo são as melhores e as mais eficazes para nossa realidade.
Somente para título de curiosidade, a distância entre as cidades de Buenos Aires, na Argentina e Medellím na Colômbia são de 6.852 km. Partindo-se do pressuposto de que nas duas cidades têm equipes com condições explícitas de disputarem uma final de Libertadores.
O que se tira dessa rápida observação é o fato de que em um jogo de final única, dependendo da localidade do continente onde for disputada, os torcedores terão que se embrenhar em uma logística de deslocamento e financeira demasiada se quiserem acompanhar de perto seu time do coração em um jogo de finalíssima da Copa.
O atual formato, que consiste em um jogo de ida e outro de volta, prestigia aquele motivo principal do futebol existir: o torcedor. Combustível principal que faz o futebol ser o negócio absurdamente rentável que é. E mais do que isso: respeita uma cultura que é intrínseca ao futebol sul-americano.
Que o velho futebol respira por aparelhos, isto todos nós já sabemos. Mas o esforço para que ele tenha uma morte rápida e se torne nada mais do que uma atividade explorável e empresarial tem sido assustador.
Obviamente os fatores que levaram a Conmebol a mudar o regulamento são extremamente financeiros – e não para uma melhoria na competitividade como informado pela instituição. Mais uma vez o torcedor é posto de lado frente às cifras milionárias que podem inflar ainda mais os cofres da federação.
O que eles esquecem, ou realmente não sabem – é que uma das melhores definições sobre marketing é que ele está diretamente ligado às pessoas, e ele é feito para pessoas. É Impossível ter um sucesso financeiro sem impactá-las, sem mexer com os sentimentos das mesmas. Scopaeja para se vender uma bala ou uma astronômica final de Copa Libertadores da América. As pessoas precisam ser atingidas. Mais do que isso: respeitadas.