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E se o seu time tivesse um partido…? | Por Felipe Blanco

(Creio que esta coluna deve começar explicando o que significa a expressão “pisar em ovos”. Você conhece ou já ouviu essas palavras? Ela significa que é preciso muita cautela ao falar sobre um determinado assunto ou realizar uma ação, do contrário, teremos ovos e qualquer relação em pedacinhos.

Qual a relação desse ditado com o tema do texto a seguir? Já viu alguém conversar sobre política e/ou futebol e não terminar em discussão, ânimos exaltados, briga ou – a nova expressão corriqueira – clubismo? A menos que os atores do debate sejam Gandhi e o Papa, que por sinal, é torcedor do San Lorenzo, teremos algum tipo de discussão mais acentuada.

Mas enfim, chega de toque para o lado na defesa, vamos avançar até o campo do debate, que nesta “partida”, será realizado na Arena da Baixada, estádio do Atlético Paranaense.)

Dia 6 de outubro de 2018, um dia antes do primeiro turno da eleição presidencial no Brasil, vigésima oitava rodada do Campeonato Brasileiro, Estado do Paraná, estádio Joaquim Américo Guimarães, Clube Atlético Paranaense contra América Futebol Clube.  Tudo correndo normalmente como mandava o roteiro, até que… os jogadores do Atlético sobem ao gramado com uma camisa amarela e uma frase escrita em verde.  A camisa dizia: “# Vamos todos juntos por amor ao Brasil”.

Não há problema nisso. Não é isso que todos queremos? Sim e não. Sim, é o que todos queremos, um país unido por amor, com ordem e progresso. Entretanto, o problema está no fato de que o design e a mensagem estampados na camisa dos jogadores do Atlético são muito semelhantes ao que um dos candidatos a presidência usa em sua campanha, ou seja, o CAP pode ser acusado por promover um ato político que desrespeita o RGC (Regulamento Geral de Competições da CBF), como consta em seu artigo 66, cujo teor completo vai ao final do texto.

 

Muitos portais da internet noticiaram tal ação, dizendo que o clube obrigou seus atletas a entrarem trajados com tal vestimenta, e ainda alertaram sobre uma possível punição da FIFA, com a pena máxima de exclusão do campeonato ou a pena mínima, que pode determinar a perda de pontos na competição. Em entrevista à Folha de São Paulo, Felipe Bevilacqua, procurador do STJD, afirmou que enxerga a ação como uma mensagem política clara, mas é a FIFA quem vai analisar o caso e determinar se haverá punição.

 

Com o contexto claro, e com você a par dos fatos, vamos ao que é inerente ao tema das minhas colunas no Brand Bola: a criação de conteúdo.
O presidente do conselho deliberativo do CAP, Mario Celso Petraglia, foi o idealizador de tal ação, que repercutiu na televisão e portais de notícias na internet, mas não foi tão ativado em suas redes sociais. Uma única foto, com os atletas Thiago Heleno, Pablo e Lucho González, foi publicada em suas contas do Facebook e Twitter.

Fato é, as duas postagens geraram engajamento maior que o de costume em suas redes sociais. Mas um post com grande engajamento nem sempre é positivo. A média das publicações do Atlético gira em torno de 500 curtidas, e esse post obteve mais de 4 mil. Como se sentiria um patrocinador que discorda da posição apresentada? Em meio aos comentários ofensivos, contra e a favor da manifestação, todos sabemos que no momento em que você lê esse texto, muitos brasileiros estão se ofendendo, brigando com suas famílias, amigos e até se agredindo fisicamente, apenas por defender lado A ou B.

Você concorda com a ideia de que um clube deve se posicionar politicamente? Usar os seus funcionários para isso, é válido? Tendo como seu maior cliente, o torcedor, que pode ser passional, radical, sensato, insano, velho, novo, homem, mulher, criança e qualquer outra classificação em grupos que possa existir, questiono, posicionar-se politicamente favorece a instituição?

Eu considero como um ato bastante arriscado, pensando no ponto de vista do clube como marca. Abraçar um lado na política brasileira, como marca, é mergulhar no rio onde não se vê o fundo. Pode haver piranhas, tubarões dentre outras espécies perigosas ou pacíficas, e se a “força estiver com você” e o rio for seguro, ainda há o perigo de rejeição dos que estão de fora e acham que você não deveria ter pulado, dos que acham que o pulo deveria ter sido um salto triplo carpado e por aí vai.

O cenário político atual do Brasil é polarizado, todos querendo se posicionar e colaborar para que caminhemos no rumo certo – o que geralmente é o extremo oposto do companheiro ao seu lado. Isso torna a escolha mais difícil, o mar fica turbulento demais para que um capitão que já tem o seu barco bem ancorado, com sua tripulação razoavelmente segura em terra firme, aventure-se definindo seu destino a leste ou a oeste.

Como essa ação reflete na cabeça dos seus fãs? O clube perderá os torcedores que possuem mais afinidade com o outro candidato? Acredito que o amor pela instituição possa colaborar para compreender que o posicionamento parte de pessoas, não de organizações. Todavia, não vejo o momento propício para provações desse tipo. Em tempos de ódio, é preciso pensar muito bem em como comunicar-se com seus fãs.

Art.66 – Os clubes, sejam mandantes ou visitantes, são responsáveis por qualquer conduta imprópria do seu respectivo grupo de torcedores nos termos do art. 6729 do Código Disciplinar da FIFA.

Parágrafo único – A conduta imprópria inclui particularmente tumulto, desordem, invasão de campo, violência contra pessoas ou objetos, uso de laser ou de artefatos incendiários, lançamento de objetos, exibição de slogans ofensivos ou com conteúdo político, ou sob qualquer forma, a utilização de palavras, gestos ou músicas ofensivas.

 Obs: Paulo André foi o único jogador que se recusou a entrar com a camisa de teor político. O atleta é um dos mais politizados do futebol nacional, participando da criação do movimento Bom Senso Futebol Clube e assinou recentemente o manifesto “Democracia Sim”. Que vai contra os valores pregados pelo candidato cujo posicionamento do Atlético-PR se mostrou favorável.

Foto: Gazeta do Povo

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